Caminhoneiros nem discutem greve
- Valor Econômico
- 15 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Apesar de manifestações isoladas em alguns pontos do país, uma greve generalizada de caminhoneiros contra o aumento dos preços dos combustíveis anunciado na semana passada é praticamente descartada pela categoria.
Líderes dizem que os motoristas estão isolados, sem apoio de outros segmentos da economia, e que há gatilhos hoje para compensar as perdas com o reajuste do combustível, que não havia em 2018. Naquele ano, caminhoneiros promoveram uma paralisação que provocou reflexos para a rotina de muitas empresas e para a economia do país.
Um dos líderes da categoria prevê o reajuste da tabela mínima do frete rodoviário pela agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a cada vez que o preço médio do diesel ultrapassa 10% nas bombas. “Quem vai pagar é o consumidor final a cada produto que comprar no supermercado, porque o preço dos fretes vai subir”, diz José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB).
Segundo ele, o contexto atual é muito diferente de 2018. “O agronegócio nos apoiou [na época] porque tinha interesse em perdão de dívidas, em ter apoio do novo governo, as transportadoras também tinham interesse político, então, todos financiaram a greve. Hoje, o autônomo está sozinho e não tem ninguém que consiga uni-los”, reclama.
Stringasci diz que muitos deixarão de ser caminhoneiros ou virarão empregados de transportadoras. Em grupos de WhatsApp acompanhados pelo Valor há algumas manifestações de motoristas dizendo que largarão a profissão. Ninguém fala em greve.
Marcos Souza, de Ourinhos (MT), o “Pitbull”, diz que vai largar a carreta quando voltar para sua cidade, depois de 30 dias carregando soja para o Nordeste. “Fechei um frete e tive dois reajustes de combustível durante a viagem, perdi R$ 300. Vou vender essa porcaria”, afirma, sobre o caminhão.
“O governo quer e tem apoio das grandes empresas hoje. O agronegócio também está ótimo neste momento, ninguém está ligando para nós ou para o consumidor que vai pagar tudo mais caro”, completa Stringasci.
A ANTB defende que a única maneira de solucionar a questão dos aumentos recorrentes do diesel é o fim da Paridade do Preço de Importação (PPI), da Petrobras. “Faremos uma carreata em maio para explicar a população como isso é prejudicial a nós brasileiros.”
O mesmo discurso foi feito pelo Wallace Landim, o “Chorão”, um dos líderes de 2018, no dia do anúncio do reajuste. “É preciso que a população brigue para não ter mais aumentos. Não é um problema dos caminhoneiros, é um problema dos brasileiros.”
Carlos Alberto Litti Dahmer, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), também acha que as medidas do governo desde o reajuste ajudam, mas não resolvem o problema. A CNTTL não está à frente das manifestações como no passado porque a categoria ficou receosa com a forma como o governo reagiu no passado.
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