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Reajuste da gasolina pela Petrobras ainda não corrige defasagem, dizem analistas

A Petrobras anunciou ontem um aumento de 7,46% no valor da gasolina cobrada na refinaria, que sobe a partir de hoje de R$ 3,08 para R$ 3,31 por litro. Foi o primeiro reajuste de preço no governo Lula e a primeira alta do combustível desde junho do ano passado. Não houve reajuste durante a campanha eleitoral. A elevação foi anunciada às vésperas da mudança no comando da estatal. Na quinta-feira, o Conselho de Administração da companhia vai se reunir para tratar da indicação do senador Jean Paul Prates (RN-PT). Ele deve ser eleito conselheiro, um requisito do estatuto da companhia. Após conquistar a vaga, Prates deve ser indicado presidente interino até a realização de uma assembleia geral, quando poderá ser formalmente nomeado para o cargo. A assembleia precisa ser convocada com um mês de antecedência. A decisão de reajustar os preços foi tomada enquanto a Petrobras é chefiada pelo diretor executivo de Desenvolvimento da Produção, Henrique Rittershaussen. Segundo fontes, o aumento anunciado desagradou ao governo, que quer alterar a política de preços dos combustíveis, de paridade de importação, baseada nas cotações de petróleo e no dólar. Prates já afirmou a jornalistas que não haverá intervenção nos preços dos combustíveis e que os valores serão vinculados ao mercado internacional “de alguma forma.” Defasagem de 15% Do ponto de vista do mercado, o aumento poderia ter sido maior. Dados da Abicom, a associação de importadores, indicam que o preço da gasolina estava 15% menor em relação ao comercializado no exterior. Não houve reajuste no valor do diesel, mas especialistas defendem algum tipo de correção para aproximar o preço do cobrado no mercado internacional. Atualmente, as importações representam cerca de um terço do consumo. A diferença no preço na refinaria com o reajuste de ontem é de R$ 0,23 por litro. A última mudança na cotação havia sido anunciada há 45 dias, quando houve redução. A tendência é de repasse ao consumidor, mas o preço final depende ainda de outras variáveis, como margem do revendedor e impostos. Economistas, porém, já refazem as contas para o impacto na inflação no mês que vem. — O mercado esperava até um reajuste maior do que R$ 0,23 por litro, considerando que desde o dia 7 de dezembro a Petrobras não anuncia mudanças em seus preços. Há uma defasagem da ordem de 15% ainda. Ou seja, R$ 0,55 por litro do preço das refinarias da Petrobras em relação à paridade internacional. Então, é mais do que natural esse movimento. E ficou ainda um pedaço para reajustar no futuro — disse o presidente da Abicom, Sergio Araujo. Ele pondera que a Petrobras deve esperar um pouco mais antes de anunciar um reajuste no diesel, diante da volatilidade maior do combustível, embora já exista defasagem. O diesel tem impacto para caminhoneiros e transporte público. — Identificamos uma necessidade de reajuste no diesel, mas menor em relação à gasolina, na ordem de 9%, ou R$ 0,45 por litro. Então é possível esperar também um aumento no diesel — afirmou Araujo. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, avalia que o reajuste foi um movimento técnico. Ele também vê defasagem de cerca de 15% no preço da gasolina, mas lembra que o aumento foi anunciado antes da posse de Prates: — A nova gestão, em conjunto com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), formatará uma nova política de preços, e a Petrobras e seu acionista majoritário se aprofundarão nos estudos para criação de um fundo de estabilização para momentos de volatilidade elevada no preço do barril. A maior dúvida é quanto à origem dos recursos para este fundo, dado o quadro fiscal. Em nota, a estatal disse que o aumento “acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio.” Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, observa que o aumento foi bem recebido pelo mercado, mas os maiores desafios estão por vir: — O grande teste vai ser se o petróleo chegar a US$ 100 em março. Há chance de isso acontecer porque a China está crescendo mais e aumentando a demanda pela commodity. Aí veremos se Prates vai subir os preços ou não. Além disso, quando forem divulgados os resultados do quarto trimestre de 2022, com expectativa de lucro entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões, veremos como serão distribuídos os dividendos. Os preços do petróleo fecharam em queda ontem, diante de preocupações com uma desaceleração econômica global e pela expectativa de aumento nos estoques de petróleo dos Estados Unidos. Os contratos do Brent perderam 2,3%, a US$ 86,13 o barril. Ações caem 0,75% No Brasil, as ações ordinárias de Petrobras terminaram com baixa de 0,75%, a R$ 30,29, e as preferenciais recuaram 0,71%, a R$ 26,60. Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, diz que o resultado acompanha o cenário exterior. Para ele, o aumento no preço da gasolina foi bem visto pelo mercado porque leva a crer que a estatal seguirá com os reajustes baseados no preço internacional: — Depois que Jean Paul Prates confirmou que a Petrobras vai continuar com os reajustes baseados no preço internacional, o mercado ficou mais tranquilo com a nomeação. O que poderia gerar um ruído seria algum problema com a nomeação dele para o cargo. Na semana passada, de acordo com dados da ANP, a gasolina tinha preço médio ao consumidor de R$ 4,98. Foi a primeira vez no ano que o valor ficou abaixo de R$ 5, segundo a agência. No começo do ano, o governo prorrogou por 60 dias a isenção de impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre gasolina e etanol durante 60 dias. A desoneração do diesel foi prorrogada por um ano. O objetivo era evitar um tarifaço logo no início do governo.

Autor/Veículo: O Globo

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